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Mostrando postagens de julho, 2013

CRENÇAS

Recriar a criação descriada pela parte falha da criatura que se crê criador Crença de quem só crê no que vê nu concreto olho que TV Descriar a sensação recriada pelo pranto atalho do criador que não se crê criatura Olho concreto nu que TV Crença de quem  só vê aquilo que crê

CALENDÁRIO

Nas repartições públicas filas de banco filas de morte filas de fila gasto horas do meu calendário de novidades, vislumbrando, talvez uma vantagem qualquer em mais cedo visitar - com prazer -  o calendário das velhicidades que vivo a escrever.

SEM DOMINGUINHOS

(ao grande Dominguinhos) E o Brasil, de repente, ficou frio Até neve do céu se jogou, caiu sanfona quieta no canto palco velho - vazio... E os domingos podem, agora, ser só domingos, de novo... um pouco mais tristes menos sanfona menos memória Só domingo... não dominguinho Só domingos... sem Dominguinhos.

LÍNGUA

O burburinho contínuo dos lugares públicos                                           é a única verdadeira língua universal

A TELENOVELA QUE NÃO PASSA NA TELENOVELA

A vida vai, devagar,  mudando a vizinhança e o tom da voz primeiro foi a vizinha que morreu aquela que pediu o vaso de flor vazio de qualquer flor depois foi o gato da vizinha que morreu suicidou-se no asfalto lento e veloz a filha da vizinha, então, chorou a morte da mãe depois, chorou a morte do gato morto da mãe agora foi o vizinho que se mudou arrancou as grades e a garagem levou as velas e o relógio deixou o vaso e as flores dentro deixou o vaso vazio da vizinha morta

SEM SENHA

o frio  não  ficou  na fila  não tem  senha nem cartão /   ficou do lado  de fora  o frio / não entrou na  repartição... onde os amontoados / aqueles que têm senha / se esquentam uns nos outros enquanto se amontoam e  esperam a senha pra poder sonhar

EM MINHA DIREÇÃO

e a mulher  que  descende  da mulher  manca manca                        com incômodo equilíbrio                                                                                                             enquanto se equilibra  no equilátero equino de  suas  ancas  equidistantes

NA REPARTIÇÃO

Senhas preferenciais outras digitais para  as  mesmas caras tão  iguais

LUA

(à Solange Trindade Rodrigues) Ontem, enquanto a lua vestia-se de lua cheia e o céu me seguia numa valsa à solidão eu esperava a madrugada e caminhava dentro em mim  como quem esbarra no próprio passo que, de repente, fica só... Ontem eu me esquecia de hoje enquanto a lua,  lenta como quem flutua, ia, linda, despindo-se de ficar nua e vestindo-se de cheia lua cheia de me cheirar a cheirar sua carne crua.

GÊNESIS

Caminhar... Seguir rastros... Pistas, passos itinerários mesmos e sempres É como a gota da taça dos planetas Que transborda e enche todo o mar É como o cisco dos olhos dos deuses Que despenca e enche toda a terra É como viver de previsões... Viver de um sopro no barro Até que o sopro se acabe Ou o barro endureça Como endurece a alma Quando se retira o cisco dos olhos Ou se extingue a gota primeira - Progenitora - Gênese - Placenta e parteira.

AU REVOIR

Caminhar... Sobre o mar pairar... Sob o amor pousar ...e revoar E revoar e fugir de mim E fugir e transcender E transcender E cruzar redomas destruir fronteiras Transgredir pesadelos E ir além Sonhar desacertos Compor momentos descompassados Recompor a melodia dos sóis Vasculhar as entranhas do fogo E ir além Caminhar... Sob o amor pairar Sobre o mar pousar e revoar Au revoir! E não me venham os males Nem os mares da dor E que os arqueólogos do espaço Não decifrem jamais O mistério do escorpião

ESPINHOS

Gosto do som amargo Das minhas palavras Gosto que me torturem Gosto da dor de concebê-las Gosto do sabor cinza Dos meus versos Gosto que me torturem Gosto da dor de recebê-los: Espinhos Que nascem pra dentro, febres, úlceras, delírios encubados como vírus emergem quando querem E se quiserem Me destroem Mas se misericórdia tiverem Apenas me usam Apenas me torturam...

PE(S)CAR

A DOSE EXATA

Viver já me é vago... Vago demais pra se viver E vazio demais pra se morrer Hoje eu e meu fóssil Reflexo de meus pesares Dividimos o mesmo quarto escuro Feito para os que não souberam Amar e odiar na dose exata

ECOS

Aliás... o amor está além das reticências Filólogos... teólogos...monólogos E o amor continua além Catárticas... aquáticas...anárquicas E o amor continua. Fatídico... metódico...sarcástico; o amor: Grave... agudo...mudo

O SOPRO (CANTO ETERNO)

A vela apagou... Velei pela vida Que já não vivia A vela apagada Pelo intenso fogo Da lágrima tensa Furtou-me os restos De meus rastros futuros O sopro que me falta... De onde virá o sopro? Talvez da própria vela Talvez da lágrima Talvez de mim...

O PRISIONEIRO

Nem quando adormeço escapo de mim: Prisão febril dos meus pesares mais queridos De asas azuis e olhos de luar - pétalas, não mãos - Cavalgo alazão sobre o mar  - Vozes, não canção =  E desmaio pelado no altar  - missa, não missão - No sonho quem espanta sou eu Quem abisma Quem pasma Quem desmaia no sonho sou eu Nem quando adormeço escapo de mim: Prisão febril de meus prazeres mais sofridos

O ELO

Anda, busca a vida que é tua Como as ondas são do mar Anda, busca o teu calvário Inaugura um trecho Perpetua um elo E sentencia tua própria escolha Anda...busca-te Busca-te porque eu serei santa Serei puta Serei como vaga Que se debata violenta Contra o mar Seu inquisidor e esposo Eternos Serei como as raízes mais fundas As pontes e as correntes Que prendem e libertam Que escravizam a alma e a busca Anda...busca-te Sabe de teus fantasmas Sabe de teus mortos, de teus vivos Sabe de ti Porque rompeu-se o elo: Não saberás mais de mim

R[O]UÍDOS

Quando rui o ruído o que é? E quando assombra e o silêncio Em outro silêncio maior? É um ruído mudo que silencia Pois não há senão Ruídos Se roer o ruído não há o que haver Ontem, quando afoguei O silêncio me matou não a enchente em meus pulmões No abismo o que mata é o fim do grito Quando o silêncio me habita é porque morri Um último ruído ruindo sempre em mim Em silêncio sigo o eco do ruído O eco do ruído É r esto de ruínas Mas ainda é mais que o Não-ruído de morrer Arruinados são os afogados que morrem sufocados no silêncio Quero morrer gritando Quero morrer rouco Ruindo rouco até morrer Sem silêncio Sem silêncio Surdo de tanto ruído

DE DENTRO DE UM SILÊNCIO

CASULO

A cara no quadro na parede da sala da casa da rua Antônio Bezerra da cidade de São Paulo no Estado de São Paulo no Brasil na América do Sul no hemisfério sul no planeta terra no sistema solar na via láctea no universo... este mísero, ínfimo, infame, faminto universo fêmea em que a cara está presa pra sempre no quadro preso pra sempre na parede presa pra sempre na casa presa pra sempre na rua que prenderam pra sempre a um nome cujo dono ela nem conheceu - nem ela nem eu. Eu que olho minha cara presa na cara presa no quadro da parede que vai, aos poucos, ficando velha como o resto todo deste universo fêmea, faminto, infame, ínfimo e mísero em que me encontro sem espaço pra sobreviver a mim e a expansão do que há dentro em mim. Em mim, não no quadro nem na parede nem na casa nem na rua, muito menos no Antônio que emprestou o nome à rua que aprisiona a casa que aprisiona a parede que aprisiona o quadro que aprisiona a cara que aprisiona eu.

NA FILA

NO VAGÃO VAGAMENTE

Ela é muito novinha pra ser mãe pensei                                                       - entre um trem e outro -  Ou eu é que estou ficando velho demais  pra pensar pensamentos entre um trem e outro.

T(R)EMOR

O texto treme as palavras, no texto que treme, também tremem as letras tremem O texto ... eu tremo o texto que me teme O texto ... eu teimo o texto que me treme

COINCIDÊNCIAS E AFÃS

A dançarina e a dança dançam e cansam  ao redor de mim...  como a ostra cansa de si da faísca opaca  e arranca-se de si em contra ações de contrações como a palavra se arranca de mim em compulsões de erupções dissolvendo-se em erosões de coincidências e afãs

INCOMPATIBILIDADE

METADES

meia palavra e meia meio poema e meio meio fio no fim do meio dia meio frio lá no fim do fim do mundo meia boca essa meia vida hein! meio vida meio morte meio vivida meio morrida metade ida metade indo metade vindo metade lida meio nada meio tudo metudo  metudo amor (metade dor) metudo tudo!

AGORA

Preciso de um poema agora na urgência surda do agora não me valem os momentos todos que me hão de vir não me valem as esquinas todas que me assistirão ir Não! Preciso de um poema agora Agora de um poema preciso agora não me valem os aplausos todos que nunca me hão de aplaudir não me valem os amores todos que nunca me hão de iludir Não! Preciso de um poema agora Isto? Isto não é um poema Isto é só meu desespero gritando meu nome na esquina enquanto se atira embaixo do caminhão que leva embora a mudança da última vizinha, que leva embora a casa da última vizinha que leva embora a última vizinha e que nunca me leva embora de mim é só meu desespero Preciso de um poema agora Agora de um poema preciso agora. ... agora.