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Mostrando postagens de junho, 2016

AMANTES

De repente vi a antiga moradora daqueles olhos a me olhar. Não era a de hoje - assim distante, assim ausente. Era a velha moradora. Aquela de entorpecer estrelas à noite e de anoitecer manhãs. Mas foi tão de repente. E a antiga moradora cerrou os olhos para adormecer dentro deles e esconder-se de si e de mim. Antigas paixões - descobri - resistem. Residem em algum canto de nós. E quando o sono nos vacila ou o vinho das horas tontas nos tonteia ou o desejo de estilhaçar nos ameaça- um olho teima em brilhar e se o outro percebe é como se um resto de orgasmo terminasse de gozar anos depois. Lembrar? Esquecer? O que nos podem provocar dois olhos a piscar? Agora é só fechar de novo os olhos - dizer que tudo está bem - abraçar os que hoje nos abraçam e seguir vida afora como se nem fôssemos amantes.

EU DE VERDADE

Ontem me disfarcei de mim mesmo E saí por aí Dizendo a todo mundo Coisas que eu diria se fosse eu Falei mal de mim até cansar Inventei histórias Cantei vitórias Fingi orgasmos Ontem,  Eu fui eu de verdade pela primeira vez

O EXÍLIO DA CANÇÃO

Só de querer voltar voltei Fui sem nem saber que fui E sempre estive assim: a um instante de estar Agora que agora é tarde demais Só resta o assombro a me assombrar Tão longe, tão fundo, tão aqui e, ao mesmo tempo nunca... Mas se desequilibrou o estribilho Não faz mal... Abre ainda mais o abismo Abisma diante do próprio brilho Beija a brisa e deixa tudo suspenso no momento...   Porque só de querer voltar voltei

NU

Meus olhos nem sempre me expõem  no espelho-outro em que me vejo nu... em que de mim nem sei  quando me desnudas  de dentro pra fora  e me devora.

ESTRADA

Às vezes o olhar olha perdido  a estrada que passou  enquanto o passo apressado  adianta o passo ainda a ser dado  De nada adianta adiantar:  nem o passo nem o passado e nem a estrada.

SUSTO

Amar  precisa  ser  sempre  um  susto   ser um arrepio uma queda livre  um vão entre vãos  pois tudo é perda, senão tudo em vão tudo  é  nada