De repente vi a antiga moradora daqueles olhos a me olhar. Não era a de hoje - assim distante, assim ausente. Era a velha moradora. Aquela de entorpecer estrelas à noite e de anoitecer manhãs. Mas foi tão de repente. E a antiga moradora cerrou os olhos para adormecer dentro deles e esconder-se de si e de mim. Antigas paixões - descobri - resistem. Residem em algum canto de nós. E quando o sono nos vacila ou o vinho das horas tontas nos tonteia ou o desejo de estilhaçar nos ameaça- um olho teima em brilhar e se o outro percebe é como se um resto de orgasmo terminasse de gozar anos depois. Lembrar? Esquecer? O que nos podem provocar dois olhos a piscar? Agora é só fechar de novo os olhos - dizer que tudo está bem - abraçar os que hoje nos abraçam e seguir vida afora como se nem fôssemos amantes.
PALAVRAS NA POESIA DA PROSA NOSSA DE CADA DIA Blog de poesia e prosa ou prosa e poesia - enfim - textos, versos, rimas e não-rimas - sentimentos transformados (transtornados) em palavras. Para cada instante um texto. Para cada texto uma vida inteira