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Mostrando postagens de outubro, 2015

CAIS

                                         Há um deus que mora e queima na pele azul do mar Ah, mar quão fundo é teu perdão e tão longe vão meus ais! Amar quanto de teu porão ainda invade o meu cais? 

ESPELHOS

Aprisionado em mim... sou mais que a prisão: Sou mais que as paredes de mim... - maior por dentro que por fora -  E por isso não caibo em mim  - transbordo... sou dois, sou mais que dois: sou aquilo que já fui e o que serei ainda sou Tudo em mim reparte... pedaços faíscas retalhos - Sou cabide de muitos eus... espelhos dentro de espelhos espalhados numa tela nua... uma tela ainda a ser por mim mesmo pintada.

E TERNAMENTE

Olhando assim no seu olhar, você é minha... Como tem sido - minha - há séculos, milênios - quiçá! Como fui seu desde o primeiro choro desde muito antes dele, na verdade... desde antes de todo este tempo começar! Ser seu filho te torna minha mãe Ser seu te torna minha seu e minha E é isso que te torna eternamente viva na vida que você me deu...  na vida que  enquanto em mim viver... te faz - minha... Minha e ternamente viva.

INS-PIRAÇÃO

PARTIDA

De quem será a última mão que terei entre as minhas? Para quem será o meu último olhar? E a última palavra que meus ouvidos ouvirão de mim... quem mais a ouvirá? Carrego bem guardada em mim a sensação da primeira mão que tive entre as minhas... do primeiro olhar que meus olhos viram a me olhar da primeira voz que me disse - 'meu filho'... E agora não sei que voz ouvirei pouco antes do silêncio... me silenciar

OLHOS

Há olhos ocos de qualquer olhar Esvaziados que não nos olham, nos atravessam... que não se olham, não se conhecem. São olhos silenciosos, silenciados... olhos sem passos, sem palavras, sem gestos, sem voz... olhos sem nenhum olhar... Mas há os outros... aqueles que não só nos olham... Há os olhos que se nos molham.

A PELE DA OUTRA

O impossível diante de mim, uma paralisia de morto e esta sede abissal de não ser eu... a temperatura perece, a primavera não dura. Ele pergunta a hora e, de repente o meu relógio se cala - eu miro seu masculino vulto, meu casulo mudo - respondo uma hora qualquer e me mudo pra outro mundo...

PEGADAS

Pés descalços na praia de manhã?  E quem apaga as pegadas? E se o mar resolver me seguir?  E descobrir tudo de mim...  E se alguma onda me soprar seu nome no ouvido?  Como vou continuar a fingir esse fingimento de não lembrar?  Como?

O TEMPO NÃO DEIXOU

Saltei meus próprios passos  e acordei no mundo do amanhãs Lá as manhãs duram o tempo de uma prece E logo são tardes velhas com varizes e saudades Antes de morrerem madrugadas mudas São noites de longos vestidos negros Sobre saltos pontiagudos que espetam De leve o chão do mundo da minha lua... Perto do dia amanhecer quis ver o pôr do sol Mas o tempo não deixou

O MESMO

Envelheci  por fora Por dentro  - o mesmo - O mesmo velho que sempre fui. Nasci velho Velho de mim mesmo Velho do tempo velho de tanto esquecimento cá dentro de mim... Ah, saudade Saudade do tempo em que Nem me lembrava De sentir saudade.

DESMAIOS

Quando ouvi seu adeus Foram dois os meus desmaios Duas mortes em uma cena: Uma de esquecimento e lapso Outra de nascimento e nada... Navegar nem sempre é preciso Viver assim de partidas é mais que morrer. Morrer assim repartido é mais que viver por viver.