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Mostrando postagens de agosto, 2013

LADOS

Animado - como criança no alto do balanço - me contou da conversa de mais cedo, quando com a filha moça conversou Disse que disse a ela: - O que tu tá malinando? E a moça do outro lado da linha do outro lado da vida do outro lado da língua disse ele que ela disse: - o que é isso? Malinando? O que é malinando? É chuva? Então não se conteve riu-se, contorceu-se como a criança no ainda mais alto do balanço e disse que disse a ela: - Oxe, menina, e você, por acaso, faz chover? E riu-se outra vez e outra vez se contorceu E eu cá deste lado do balcão deste lado do mundo deste lado da língua rindo do seu rir-se assim todo a se balançar disse: - Mas, afinal, o que que é malinando?  

A PAUSA EM "POR TUDO AQUILO QUE O TEMPO NÃO CURA

Uma amostra do que vem no meu livro - "Por tudo aquilo que o tempo não cura" - já disponível para pré-venda no site da editora Patuá - link abaixo. A pausa De tanto me esquecer pelos cantos da vida – vejo que sobro. E esta sobra em que me transformei não tem reflexo nem conteúdo – só caminha passos velhos numa estrada sem curvas que jamais começa nem acaba. Dei de acreditar que a vida é só uma pausa – enquanto a morte não vem.  Cá estou eu agora deitado no abismo, solto e preso no labirinto do que penso – tentando inventar uma curva na estrada de passos velhos. Meus caminhos são outros, minha cara nem é esta, meu semblante – esqueci na primeira gaveta do criado mudo - e meus olhos piscam améns antes de dormir. De que adianta uma ponte no meio da estrada? – e de que adianta toda esta estrada se a vida é só uma pausa enquanto a morte não vem? Leandro Luz

PÉTALAS DE NINAR

Meu amor disse que adora cavaquinho e eu o toquei num chorinho... então ele disse que adora dias de sol e eu ensolarei depois começou a gostar de picolé  e eu congelei Agora ele, enfim, parece que vai gostar só de mim que bom... já estava cansado do esforço de ser tudo e não ser nada de ser tanto e não ser eu Agora eu vou dar banho nele aguá-lo com pétalas de ninar depois vou com ele me deitar esperar - quieto no meu canto -  seu beijo  de boa noite pra com ele adormecer dormir no seu sono e nos seus sonhos também sonhar...

VÃO

Estou sentado diante do tempo - do que dele me resta - mas não olho a cara do tempo Preciso falar do tempo sem, no entanto, dizer seu nome para que ele não me ouça e não me amaldiçoe com sua carne de comer traumas por entre frestas de varizes cruzadas em velhas salas de visitas velhas... Não há tempo para treino, diário de classe reuniões de condomínio Os moradores do tempo anseiam por um rasgo, uma nesga algo que lhes sirva de fuga ou de vaga para a hora outra, a derradeira hora a fauna das horas cãs primitivas e digitais como peles de animais correndo por florestas extintas em continentes que nem há pois fora o tempo seu amante e carrasco / O mesmo que agora me olha / e me rouba um pouco mais de mim diafragma não diafragma sim E a opção seria esvaziar-me de qualquer ar e, cheio do meu vazio, deixar-me esmorrecer devagar como flor que desnasce como morte que desmorre.