Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de abril, 2013

DA JANELA DO ÚLTIMO ANDAR DO PRÉDIO DA ESQUINA DA RUA DO CENTRO DA CIDADE DESERTA DE MIM

A OUTRA E A MERETRIZ

Se eu fosse a outra te faria pagar por tudo que não fazes comigo Faria humilhações em público - já que em público tu não me levas... Gastaria teu dinheio em boutiques - já que em boutiques tu não me exibes Falaria alto em restaurantes finos - já que neles tu não me empanturras Insinuar-me-ia a outros homens nas praias - já que ao mar tu não me mostras E teria tantos amantes quanto teu dinheiro sustentasse... Ah, se eu fosse a outra Mas eu não sou a outra A outra é a outra  E eu sou   A que fico quando tu sais que limpo o que tu sujas arrumo o que tu deitas alimento tua fome e envelheço em tua ausência... Mas se eu fosse a outra hoje, ah, eu te beijava muito, meu bem e te sugava todo o veneno com que te envenenei, meu bem... Amanhã, vou chorar e rir e fingir espanto de dentro do meu hobby de cetim branco,  quando souber, pelo oficial na minha porta que sou viúva, que minha solidão é morta - e a outra de boca e de buceta expostas ao marido mort

PECADO

... o pecado está naquele que vê pecado onde não tem A cor da tua alma combina com o cheiro do meu calor E a mordida no pescoço - é seu mamilo em minha mordida Os pelos na cama - se são seus - são meus também E o suor do nosso cio é a saliva malsã do nosso sêmen E o pecado está naquele que inveja o pecado que a gente tem...

DESCOINCIDÊNCIA

A BANDEIRA

Look! A bandeira do universo é um arco-íris! O quê?  Você não consegue ver? Ah, é assim, mesmo...               Gente feia apaga até arco-íris. Que pena você ainda não poder ver como tudo é tão lindo: A bandeira do universo - um arco-íris

O exílio da canção

Só de querer voltar voltei Fui sem nem saber que fui E sempre estive a um instante de estar Agora que agora é tarde demais Só resta o assobio assobiar E que o sabiá da canção Nunca se canse de rimar Posto que o poeta assim sem poetar Não é poeta é só mudez a murmurar O exílio da canção perdeu-me no estribilho E nos pés um outro chão E no céu um outro brilho Aqui não é lá e lá não é aqui E os coqueiros daqui nem existem Quiçá sabiá algum existirá

NARCISO

PISO

PELO BEM DA FAMÍLIA BRASILEIRA

Está lá dentro há mais de dez horas. O outro já faz três semanas. E o primeiro, há dois meses. Até agora nenhum avanço. Já tentaram choque? Fogo nos pés?  já tentaram quebrar as pernas? Furar os olhos?  Sim, Tudo E? Nada. Nada? Sim, nada. Os três insistem em continuar sendo canhotos.  Então, cortem-lhes o braço e a perna esquerdos. Senhor, já cortamos o braço e a perna esquerdos do primeiro. E então? Ele deixou de ser canhoto, é verdade... Ótimo. Sim. Mas não se tornou destro.  Agora ele não é nada. Que seja, Melhor assim.  Antes termos um nada entre nós do que um canhoto.

RASTROS

FÉ CEGA

Todos entraram na fila sem perguntar fila pra quê. Na fila ficaram a vida toda e não perguntaram fila pra quê. Quando chegou a vez de cada um ser atendido, cada um - em sua vez - foi atendido. E quando foi atendido, cada um ganhou, então, uma senha. De senha na mão, cada um foi entrando, então, em fila - no seu céu.  E no reino do seu céu, tinha uma fila -  Todos entraram na fila sem perguntar fila pra quê. Na fila ficaram a eternidade toda e não perguntaram fila pra quê.

O ELO ENCONTRADO

Minha poesia é minha arma,  mas ela só machuca aquele que já passou do Neanderthal  e do Homo Sapiens, ainda está no homo Quem nunca deixou o Neanderthal não é sequer por ela atingido,  pois não a entende  e quem já alcançou o sapiens com ela não se fere mais

EM TUDO QUE HÁ

Estou sempre por aqui, por ali, aí  - agora - já É só me colher em botão, no pólen, na flor de tudo que há. É só me ouvir na canção, no toque, no fundo do mundo do mar. Estou aí no teu colo a te ninar, No teu beijo a te calar, No teu céu a luar.

DO VAZIO

E quando ele quer se confessar, aonde vai? E quando se arrepende como faz? Quando sente medo a quem recorre? Em que altar em que terreiro seu santo dorme? Vive triste desde que perdeu a fé Às vezes ensaia uma oração, um pai-nosso que estais no céu e já nem se lembra do final. Anda velho de si mesmo, cansado do que não há vazio do que não vê. E quando quer ficar sozinho? quando quer dormir, ficar quietinho... Ou quando quer brincar,  dançar, beber, beijar, ser feliz? Tem pensado em ser ateu Em virar monge, plebeu ou mudar-se pra uma aldeia bem no meio da História  - nem passado nem presente    - só o poente haverá. Eternamente poente  o sol o homem e o céu. E quando ele estiver velho e já perto de morrer, quem vai lhe consolar as últimas dores? Quem vai lhe convencer a morrer em paz prometendo-lhe que existe vida depois da eternidade? Se ele é Deus, o que será dele quando precisar pedir perdão? O que s

MEU PAI DE UM DIA FELIZ

(Poema em homenagem ao meu avô/pai Octacílio,  publicado no jornal da minha cidade em 1997. Hoje, dia 04 de abril de 2013,  ele faria 99 anos) SE UM DIA FUI FELIZ FOI NO SEU ABRAÇO SE UM DIA SOFRI FOI NO SEU ADEUS DE REPENTE É UMA TARDE DE SOL E VENTO MOMENTO DE PRECE E SOLIDÃO AINDA SINTO NA PELE UM ROÇAR DE BARBA BRANCA E UMA TRÊMULA MÃO  ME APONTANDO O MUNDO PELA JANELA DO FUNDO DO QUINTAL ONDE UM DIA FIZEMOS NOSSA FAZENDINHA E ÍNDIOS E COWBOYS E CARRINHOS E PESSOAS SE MISTURAM NA BRINCADEIRA SAO BALOES DE SAO JOAO É CANTIGA É BAI Ã O FOI TODA UMA HISTÓRIA D´UM HOMEM QUE TREPAVA EM ÁRVORE ENGANAVA BRUXA E ERA HER Ó I E TANTO DOEU QUE UM DIA SE FOI N Ã O AQUELE DA HIST Ó RIA MAS AQUELE MEU. MEU HER Ó I AQUELE DE BARBA E COWBOY QUE ME ESCOLHEU PARA AM Á -LO, E COMO SE POSS Í VEL FOSSE - ETERNIZ Á -LO.

MOMENTOS

Muito sábia é a ostra que bem esconde o seu tesouro Para bem filosofar é preciso a vida não viver, pois não se é racional nas paixões e não se vive sem paixão A montanha é grande, muito grande,  mas não é feita de outras montanhas grandes e sim de pedrinhas bem pequenas que nunca, porém, deixaram de acreditar que um dia seriam montanha grande, muito grande. Mesmo salgada a água do mar água azul não deixa de ser; Como minh'alma, que mesmo turva, às vezes, alma de luz não deixa de ser

GELO

Desconfie de céus azuis demais, mares calmos demais,  marés suaves demais...  Desconfie da felicidade.  Desconfie sempre.  Num segundo a maré faz de um mar calmo um  maremoto  E um céu azul demais de repente desaba  cinza sobre quem se atreve a pensar que é dono do  azul... E a felicidade  - num minuto derrete gelo no copo vazio  - esquecido na mesa depois do terremoto.