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DESMORONAMENTO

Ah, se eu fosse algum parnasiano Como seria bom viver! Ou fosse eu algum árcade  ou bossa-nova! tudo forma todo molde Ah, como seria doce e como seria leve! Viver de brisa como vive a brisa e de orvalho como o próprio orvalho... Mas que nada... sou mais B arroco que Tropicália, mais B yron que João Gilberto... Como do tarô a morte o enforcado, a torre,  o diabo... sou este ser assim pesado este avesso em si mesmo talhado este  des mo  ro  na  men to... um atraso, um ataque um pileque, uma ressaca... Este quase esquecimento de nomes e datas Este peso Este peso Se não fosse o peso do que sou se não fosse o peso... Ah, seria eu um poema  a flutuar parnasiano numa praia lerda num postal ... antes da faísca,  depois do Carnaval ... antes do cisto,  depois ...  bem depois do Natal
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PLENITUDE

Ser seu é o que me faz mais eu Quando toco seus lábios com os meus E quando percorro o mapa do seu corpo me perco e me encontro... Quando mergulho no mar do seu amar E caminho na estrada dos seus braços Me entrego e me conheço... Quando deito na grama do seu peito Na paz do depois de nós dois Morro e revivo no mesmo instante Aquele em que os olhares se esbarram E um sussurro ainda sem ar... Diz e, ao mesmo tempo, escuta Um mesmo eu te amo em duas vozes Iguais e, ainda assim, dessemelhantes Mesmas e, ainda assim, inteiras... Não somos metades Somos plenos... Mas sei que quando sou seu Ainda mais pleno me sou Porque ser seu é o que me faz mais eu. #poesia #poema #poemadeamor #literatura

INSINUAÇÃO

Cabe um brevíssbimo eco no fim do último olhar ... Pouco antes do jamais. Entre o agora e o talvez. Mas este eco pode ficar assim calado Durar noites inteiras de lua cheia e chão vazio Ou somente olhar o mar e dentro dele o navio Eternamente a afundar... Não sei. Prefiro assim: Deixo escorrer do olho o olhar E só  - nem eco nem silêncio - Tudo mera insinuação.

TARDE DEMAIS

Desço, só, o desfiladeiro sombrio de mim mesmo Amanheço veias cansadas como rios sujos Amanheço velhas pancadas no ouvido surdo Amanheço, mas só porque me amanhece o dia já quase sem manhã... Amanheço na marra, à forca, a fórceps Amanheço à espera da nova noite noiva Que me desposará pra fora do que me fala quando me falha a fala. Amanheço. Não. Não amanheço de fato Antes escureço É dia no meu fuso e eu escureço Escureço enquanto o dia, lá fora de mim Exerce seu papel mesmo e mesmo aos outros que não eu... Enquanto o mundo escorrega sombras Eu, sozinho, mudo e morto Me mudo nu pro quarto dos fundos Depois dos muros já velhos de perdas e escombros Num sopro turvo, no último assombro já há muito esquecido Na cortina cerrada que me escurece o palco, o quarto e eu... Num resto de socorro gasto... No tarde demais. E a noite amortece câimbras.

SE O RELÓGIO...

Se o relógio só pode marcar um instante a cada instante... Vive, pois, de matar e desmatar instantes o relógio É como a queda d'água parada diante da própria queda ou como o paraquedas aberto depois do fim da queda É como o suicida que desiste do suicídio embaixo do trem ou a viúva que insiste no esposo depois do último palmo de terra Se o relógio só marca o agora então ele nada marca O ponteiro do segundo é um eterno atraso lento somado a um pra sempre amanhã é o intervalo entre o fôlego e o afogamento a ponte entre o nunca e o tanto faz a janela aberta pra dentro o piano sem cordas a corda no pescoço morto a pena na mão muda a derradeira palavra vã que dita é poeira no vento e muda é poesia sem ventre... é nada Se o relógio só marca o agora ele, então, marca o nada.

ANTES DA LABIRINTITE

E então ela disse-me assim: Não se gaste demais com quem  ainda está atravessando a primeira parede dos parênteses... Não se prenda demais a quem ainda está tropeçando no segundo ponto das reticências...                                                  Não Não se perca demais por entre as penas de quem ainda cruza as pernas  com cara de que entendeu os desentendimentos E não finja demais ser como os demais isso de querer tanto parecer tonto como os tontos ainda vai te causar uma labirintite.

ESTIMA