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PALAVRAS

Ainda bem que posso escrever. Cada letra que vou parindo no papel é uma vida a mais que me dou... não fossem as palavras seriam muitas mortes morridas na minha solidão.
Ainda bem que posso escrever. Cada texto é um perdão que me dou. Condenado à morte desde que nasci - só vivo porque tenho palavras demais em mim - e elas precisam gritar - berrar-se ao mundo nesse antiestupro - esse parto essa amputação. O que me salva há de me matar, eu sei ... quando as palavras tiverem todas sido ditas - escritas - cessará meu tempo de perdão - de parteiro de metáforas - pajé de letras prematuras - cessará meu tempo de doer de doar. Que sejam breves as palavras e poucas as rimas que me faltam!

Comentários

  1. Me sinto assim...por isso sinto compulsão em escrever, e, quando possível, quebrar a regra gramatical para não quebrar a lógica.

    Beijo/boa semana

    BRUNO SOARES DE OLIVEIRA

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CASULO

A cara no quadro na parede da sala da casa da rua Antônio Bezerra da cidade de São Paulo no Estado de São Paulo no Brasil na América do Sul no hemisfério sul no planeta terra no sistema solar na via láctea no universo... este mísero, ínfimo, infame, faminto universo fêmea em que a cara está presa pra sempre no quadro preso pra sempre na parede presa pra sempre na casa presa pra sempre na rua que prenderam pra sempre a um nome cujo dono ela nem conheceu - nem ela nem eu. Eu que olho minha cara presa na cara presa no quadro da parede que vai, aos poucos, ficando velha como o resto todo deste universo fêmea, faminto, infame, ínfimo e mísero em que me encontro sem espaço pra sobreviver a mim e a expansão do que há dentro em mim. Em mim, não no quadro nem na parede nem na casa nem na rua, muito menos no Antônio que emprestou o nome à rua que aprisiona a casa que aprisiona a parede que aprisiona o quadro que aprisiona a cara que aprisiona eu.

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