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DESMORONAMENTO












Ah, se eu fosse algum parnasiano
Como seria bom viver!
Ou fosse eu algum árcade 
ou bossa-nova!

tudo forma todo molde

Ah, como seria doce e como seria leve!
Viver de brisa como vive a brisa
e de orvalho como o próprio orvalho...

Mas que nada...
sou mais B
arroco que Tropicália,
mais B
yron que João Gilberto...

Como do tarô a morte
o enforcado,
a torre, 
o diabo...
sou este ser assim pesado
este avesso em si mesmo talhado
este 
des mo 
ro 
na 
men to...

um atraso, um ataque
um pileque, uma ressaca...

Este quase esquecimento de nomes e datas
Este peso
Este peso

Se não fosse o peso do que sou
se não fosse o peso...
Ah, seria eu um poema 
a flutuar parnasiano
numa praia lerda num postal
... antes da faísca, 
depois do Carnaval
... antes do cisto, 
depois ... 
bem depois do Natal











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