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DESMORONAMENTO












Ah, se eu fosse algum parnasiano
Como seria bom viver!
Ou fosse eu algum árcade 
ou bossa-nova!

tudo forma todo molde

Ah, como seria doce e como seria leve!
Viver de brisa como vive a brisa
e de orvalho como o próprio orvalho...

Mas que nada...
sou mais B
arroco que Tropicália,
mais B
yron que João Gilberto...

Como do tarô a morte
o enforcado,
a torre, 
o diabo...
sou este ser assim pesado
este avesso em si mesmo talhado
este 
des mo 
ro 
na 
men to...

um atraso, um ataque
um pileque, uma ressaca...

Este quase esquecimento de nomes e datas
Este peso
Este peso

Se não fosse o peso do que sou
se não fosse o peso...
Ah, seria eu um poema 
a flutuar parnasiano
numa praia lerda num postal
... antes da faísca, 
depois do Carnaval
... antes do cisto, 
depois ... 
bem depois do Natal











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CASULO

A cara no quadro na parede da sala da casa da rua Antônio Bezerra da cidade de São Paulo no Estado de São Paulo no Brasil na América do Sul no hemisfério sul no planeta terra no sistema solar na via láctea no universo... este mísero, ínfimo, infame, faminto universo fêmea em que a cara está presa pra sempre no quadro preso pra sempre na parede presa pra sempre na casa presa pra sempre na rua que prenderam pra sempre a um nome cujo dono ela nem conheceu - nem ela nem eu. Eu que olho minha cara presa na cara presa no quadro da parede que vai, aos poucos, ficando velha como o resto todo deste universo fêmea, faminto, infame, ínfimo e mísero em que me encontro sem espaço pra sobreviver a mim e a expansão do que há dentro em mim. Em mim, não no quadro nem na parede nem na casa nem na rua, muito menos no Antônio que emprestou o nome à rua que aprisiona a casa que aprisiona a parede que aprisiona o quadro que aprisiona a cara que aprisiona eu.

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