Pular para o conteúdo principal

PRISÃO

Afinal, como alguém poderá me entender se nem eu me entendo? 
Primeiro o tempo - sou filho do tempo e filho rebelde que sou não o aceito não o quero não o amo
Depois sou preso a mim - escravo de ser eu mesmo a vida toda. De que me vale ser tudo se sou apenas eu eternamente? Infeliz prisão sem paredes sem saída - deve haver uma saída...
Há anos planejo a fuga de mim - a fuga perfeita.
Enfim sou pai dos medos todos. A cada nova fuga uma nova ruga... e assim vou me conformando... a liberdade virá um dia - espero não ter muitas rugas até lá;
Se um dia, porém, tudo pesar demais - como agora pesa - jogo-me para fora de mim num susto, rasgo as rugas todas e corro livre e nu no deserto sem fim de não ser eu.

Comentários

  1. "...escravo de ser eu mesmo a vida toda... Infeliz prisão sem paredes sem saída"

    Será que a liberdade vem mesmo um dia?
    rs

    Adorei os textos li todos e decidi comentar no q mais me encontrei... ou me perdi... rsrsrs

    Abrasss!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

CASULO

A cara no quadro na parede da sala da casa da rua Antônio Bezerra da cidade de São Paulo no Estado de São Paulo no Brasil na América do Sul no hemisfério sul no planeta terra no sistema solar na via láctea no universo... este mísero, ínfimo, infame, faminto universo fêmea em que a cara está presa pra sempre no quadro preso pra sempre na parede presa pra sempre na casa presa pra sempre na rua que prenderam pra sempre a um nome cujo dono ela nem conheceu - nem ela nem eu. Eu que olho minha cara presa na cara presa no quadro da parede que vai, aos poucos, ficando velha como o resto todo deste universo fêmea, faminto, infame, ínfimo e mísero em que me encontro sem espaço pra sobreviver a mim e a expansão do que há dentro em mim. Em mim, não no quadro nem na parede nem na casa nem na rua, muito menos no Antônio que emprestou o nome à rua que aprisiona a casa que aprisiona a parede que aprisiona o quadro que aprisiona a cara que aprisiona eu.

DESMORONAMENTO

Ah, se eu fosse algum parnasiano Como seria bom viver! Ou fosse eu algum árcade  ou bossa-nova! tudo forma todo molde Ah, como seria doce e como seria leve! Viver de brisa como vive a brisa e de orvalho como o próprio orvalho... Mas que nada... sou mais B arroco que Tropicália, mais B yron que João Gilberto... Como do tarô a morte o enforcado, a torre,  o diabo... sou este ser assim pesado este avesso em si mesmo talhado este  des mo  ro  na  men to... um atraso, um ataque um pileque, uma ressaca... Este quase esquecimento de nomes e datas Este peso Este peso Se não fosse o peso do que sou se não fosse o peso... Ah, seria eu um poema  a flutuar parnasiano numa praia lerda num postal ... antes da faísca,  depois do Carnaval ... antes do cisto,  depois ...  bem depois do Natal

SER POETA SEM SER

Ah, esta luta esta labuta Cá estou num avesso de digestão a gerir palavras em vão! Ah, a crueldade do poema! A dor de cada verso A dor de saber-se assim Imperfeito assim Assim feio... Por que não calar de vez a voz? Por que insistir assim? Édipo cego sem pai sem mãe sem luz Em busca de ver com mãos e bocas a poesia que me habita e que me falta Está em mim, sombra em mim... Mas não é minha, não de mim Se a toco de leve foge, se a estupro finge-se de morta e eu, enfim Finjo-me assim De poeta sem ser.