Pular para o conteúdo principal

TRIGONOMETRIA

Nunca pensei que um dia acharia trigonometria, báskara, pitágoras e logaritmo mais simples que viver... 
Nem podia imaginar que as combinações químicas da dona Cleide podiam ser tão simples se comparadas a entender o que se passa em minha mente em um simples segundo de pensamento.
Também não imaginei que as datas das guerras todas e os nomes dos generais que as ganharam e as perderam pudessem ser tão mais fáceis de entender do que o que sinto aqui sozinho comigo mesmo agora, por exemplo. Isso para não falar da descomplicação absurda da Geografia, Biologia, Filosofia, Sociologia, Arte, Inglês - diante da mais aparentemente simples das questões de qualquer prova: Quem sou eu?
Pior é pensar nas análises de todas as orações subordinadas subjetivas, adverbiais e adjetivas da Dona Gildete, da dona Rita e do Marcos juntas, que não chegam nem perto das complicações de uma simples sessão de terapia comigo mesmo em frente ao espelho que não vejo todo dia quando acordo, mas sei que está ali sempre me olhando. 
Este mesmo espelho que está envelhecendo junto comigo há tantos anos e que me olha desconfiado - assim - de dentro pra fora. E me diz coisas que eu não entendo e me pergunta coisas cujas respostas não estão nos teoremas nem nas fórmulas - que hoje me parecem tão banais - da Física do professor Nelsinho.
Este meu espelho inquilino devedor que não paga aluguel nem condomínio e que não posso despejar gosta de me lembrar coisas de quando éramos bem pequenos - ele e eu - e eu ainda nem pelos tinha - e eu ainda corria pela rua sem compromisso algum em chegar na hora certa. Corria, mesmo, só por correr.
Este espelho, uma dia ainda o quebro. Estou tentando. Foram comprimidos demais, foram cortes demais, foram ruas demais. E quem sabe, um dia, eu não o estilhaço em um milhão de pedaços lá do viaduto do Chá? Sei que não é nada original. E daí? Ninguém mais é original depois que o Pelé teve o atrevimento de cantar com a Elis Regina.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MORMAÇO

Não sinto falta de mim  quando me despedaço e vou Sinto que sobra espaço no que me fica quando me despeço e voo e se a palavra sair calada não espanta, apanha o silêncio e escuta vigia meu sono devagar e não me deixe nunca perder seu rastro perder seu signo no mormaço - saciado cio - do nosso olhar: altar do meu sair  sempre pra fora de mim...

JANEIRO

Quero um ano inteiro de janeiros. Quero anos inteiros só de janeiros. Que todo dia seja ano novo. Que, no céu, fogos de reveillon iluminem as noites todas dos meus dias de janeiro. De repente toda canção foi feita para nós, todas elas te cantam nossa história e me contam dos teus dias sem mim. E todo arco-íris que vejo tem uma cor a mais: o moreno da tua pele morena. Quero um ano inteiro de janeiros. Quero as estações todas misturadas no cheiro do teu corpo suado: verão de me queimar os lábios, inverno de gelar meu sangue de prazer, primavera de me trazer flores no almoço e outono de anoitecermos juntos numa estrada a cem por hora. E agora o que fazer comigo quando vais embora de mim? O que dizer aos meus lábios que só querem beijar? E o que dizer ao meu corpo em chamas voando baixo nesta cama imensa em que já não posso dormir? Quero mil anos feitos todos de janeiros e janeiros eternos só para que me conte histórias de tuas idas e vindas pelo mundo sem cor de antes de me conhecer, pa

A VOZ

Onde está sua voz para ler meus poemas? De nada me valem os poemas se não tenho voz para lê-los. Pobres poemas ófãos - eles desconfiam de seu adeus e já não querem mais rimar. Pobres poemas órfãos! Ontem enquanto me lia para mim - e eu ouvia sua voz a me contar coisas de mim - esqueci que o tempo existe e que os amores nem sempre resistem. Ouvir sua voz é assim: decifra-me enquanto me faz esquecer das coisas, do mundo e de mim. Onde está sua voz me revelando devagar? Onde está sua voz que me morde e me arrepia quando diz meu nome sem falar?  Um eco ao menos, deixe-me um eco quando gritar meu nome antes de dormir.