Alguém, por favor, esfaqueie-o ou o sequestre
E o leve para uma fogueira
Na velha inquisição espanhola ou em Salém
E o abandone lá – queimando eternamente
Alguém, por favor, amarre braços e pernas
Do meu pensamento – que ele não ande
Não gesticule ...
Alguém lhe arranque a boca miserável
Que ele não se alimente das minhas dúvidas, meus medos
Que ele morra seco – anorexia, inanição
Alguém, enfim, fure os olhos e ouvidos do meu pensamento
Se ele nada vir e nada ouvir não terá nada em que pensar
E eu, finalmente, saberei o que é ser liberto - alforriado
Livre de pensar em tudo que meu pensamento pensa
Sem minha permissão
No estupro de invadir-me o tempo todo
De estripar-me o tempo todo
Sem nunca me dar a chance
A misericordiosa chance do silêncio
Talvez – na morte – e só na morte
Na minha ou na de meu pensamento
Haja, enfim, o não-pensamento
O vazio, a paz, a não-linguagem
O não-eu que há tanto tempo - tanto anseio.
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