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Ela é mudo?

- Amor, é uma mulher, presta atenção no cabelo. É de verdade, não é peruca.
- Como se não existisse homem de cabelo comprido! É lógico que ele é homem.
- Você está louca! É uma mulher. E uma mulher muito bonita, aliás.
- Ah, é!?! É um travesti! Quer dizer que você está gostando de travesti agora, Ronaldinho?
- Que isso?
- Você não a achou bonita?
- Sim, uma mulher bonita. Mu-lher, ouviu?
- É homem, seu burro! Olha o pescoço dele. Ele tem aquilo que os homens têm. Como é que chama?
- Gogó?
- Ai, acho horrível esse nome! Gogó. Parece coisa de galo! Mas é isso mesmo, olha lá! Mulher não tem aquilo!
- Eu não estou vendo nada. Ela é toda delicada, é uma mulher.
- Delicada ou exagerada, hein? Mulher é mais natural, não mexe tanto no cabelo, não gesticula tanto.
- Ah, não? Então sua mãe é um travesti também?
- Olha o respeito com a minha mãe, seu... seu... seu catador de travesti!
- Fala baixo, mulher! O que é isso? As pessoas ouvem e até acreditam.
- Vamos ver. Vamos lá, vamos passar bem perto dele ou dela, sei lá, e ouvir a voz. Quero só ver. Não dá para disfarçar a voz. Homem tem voz de homem.
- Bem que eu desconfiava do seu irmão, com aquela vozinha.
- Cala a boca e vamos lá.
(...)
- Como eu ia adivinhar? Como?
- Viu, por isso ela gesticula tanto! Ela não é travesti, coitada, ela é muda!
- Mesmo assim, ainda acho que ela é homem! É mu-doooo!
- É muda! Mu-daaaa!
- É. Ela é muda e você é cego. Ce - go!
- De verdade? Tem hora que eu queria ser mesmo é surdo!

Comentários

  1. (Risos) Muito bom.

    Abraço!
    Erick A. Novaes

    Divulgação: Me siguam no twitter - ErickRussell

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  2. Isso é muito cotidiano, parece com diálogos meus com o meu namorado... rs

    ResponderExcluir
  3. No mundo modernos do namoro, chamamos isso de DR mais que bem humorada;

    (momento risadinhas)

    BRUNO SOARES DE OLIVEIRA

    ResponderExcluir

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CASULO

A cara no quadro na parede da sala da casa da rua Antônio Bezerra da cidade de São Paulo no Estado de São Paulo no Brasil na América do Sul no hemisfério sul no planeta terra no sistema solar na via láctea no universo... este mísero, ínfimo, infame, faminto universo fêmea em que a cara está presa pra sempre no quadro preso pra sempre na parede presa pra sempre na casa presa pra sempre na rua que prenderam pra sempre a um nome cujo dono ela nem conheceu - nem ela nem eu. Eu que olho minha cara presa na cara presa no quadro da parede que vai, aos poucos, ficando velha como o resto todo deste universo fêmea, faminto, infame, ínfimo e mísero em que me encontro sem espaço pra sobreviver a mim e a expansão do que há dentro em mim. Em mim, não no quadro nem na parede nem na casa nem na rua, muito menos no Antônio que emprestou o nome à rua que aprisiona a casa que aprisiona a parede que aprisiona o quadro que aprisiona a cara que aprisiona eu.

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