Quando o vento levou a areia e
depois a praia – não levou só a praia e a areia antes – ele levou o poema que
eu havia escrito com seu cabelo. Ontem, enquanto você dormia, de um fio solto,
fiz um verso, de outro fio, um barco à vela. Você nem sabe, meu amor, mas
velejamos a noite toda. No fio do seu cabelo, velejamos mundo afora.
Do terceiro fio, fiz uma ilha
inteira – uma ilha com praia deserta, coqueiros, índios, náufragos, naufrágios
e nós dois. Na areia da praia, deitei você e fiquei ali, ao seu lado. A me
afogar no seu mar. Atrás de nós, o sol brincava de amarelinha com alguma estrela travessa
e a lua esperava – ansiosa – sua vez de entrar na brincadeira.
Mas os coqueiros – invejosos de
nós dois – chamaram o vento com uma canção de pescador. O vento veio –
veio e levou embora meu poema feito do fio do seu cabelo – o vento veio e levou
a areia, a ilha. Depois levou o barco, o mar e, finalmente, depois de me roubar
o último fio, o vento levou você de mim.
E agora?
E agora que a lembrança é só um
fio? Um fio que, como eu, já não tem mais nenhum cabelo pra se emaranhar – pra se
amarrar – pra amar.
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