Precisei cerrar a janela porque a chuva – que cantava uma
valsa no telhado da varanda – teimava em querer cantar no meu quarto.
Mas só a janela de vidro fechei – mesmo que mais distante –
queria ouvir, ainda, um pouco da canção e queria ver seus lábios valsando
as notas enquanto seus gestos desenhavam, no encontro entre céu e terra, um
quadro simbolista todo feito de cristais. De vez em quando o trovão, com sua
voz de barítono, vem acompanhar a chuva – que deve ser soprano, às vezes, às
vezes não.
Essa chuva que agora deixei lá fora não me molha a cama nem
as roupas no guarda-roupa nem o retrato no criado mudo – mas ela, mesmo lá
fora, ainda me molha por dentro a alma - e de tanto me molhar a alma, às vezes,
transborda pelos meus olhos. É quando eu chovo, então, minha própria melodia.
Comentários
Postar um comentário