Cá estou ... não sei em
que fase de mim estou, mas sei que estou.
Sinto o eco de mim em
algum gesto meu.
Sinto que sou eu.
Vejo minha sombra projetada
à minha frente quando caminho e então sei que sou: eu.
Sinto o gosto da saliva
que engulo e então sei que sou: eu.
Minha voz me engana,
às vezes tinge timbres
novos, tons outros e penso que não sou eu que falo com minha boca.
Nessas horas desespero,
sufoco.
Corro ao espelho, nu de
cascas e casulos, e me encaro com dor e repulsa, e vejo, enfim, que ainda sou
eu que habito o corpo de mim.
Não sei se tranquilizo
ou se agonizo ainda mais.
Por um lado sei que não
vago por aí perdido de mim,
sem um corpo a
pertencer,
por outro lado, no
entanto, sinto o peso de ainda estar preso aqui, dentro de mim,
vasculhando porões e
calabouços,
subindo e descendo
escadas,
abrindo e fechando
portas,
gritando e ouvindo o
eco dos meus gritos
- tudo isso,
entretanto, sem sair de mim.
Ah, como me cansa esta
prisão sem grades pra dentro da qual vim morar quando me nasceram.
Como me cansam os
mesmos ossos todo dia,
os mesmos cheiros,
os mesmos sabores e,
acima de tudo,.
ah, acima de tudo,
como me cansam as mesmas
letras do meu nome, dia após dia, o mesmo nome...
as mesmas vogais – e a o
– eao -
se pelo menos a ordem
desordenasse um dia e, por um dia, eu fosse
aeo ... oea ...oae ...
mas presas a mim como eu a
elas somos sempre - e a o – eao -
Muito lindo, profundo... Sentimentos que só os sensíveis consegue sentir e descrever.Amei! consegui visualizar-me em cada frase.
ResponderExcluir