Pular para o conteúdo principal

TANTO QUE TANTO

Ainda hei de me conhecer um dia. Sei apenas das partes de mim - não do todo.

Vivo esbarrando nas paredes de mim - vivo esbarrando nos que insistem em mim

Quase tempestade, quase ressaca - na boca gosto de de sufoco

Ainda hei de me olhar nos olhos de olhos bem abertos - e depois hei de cegar os olhos

e de olhos cobertos - perder-me de mim de novo só para de novo me encontrar

Pois está na busca não no encontro

está na ida não na chegada

o conhecer-me tanto que tanto quero

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CASULO

A cara no quadro na parede da sala da casa da rua Antônio Bezerra da cidade de São Paulo no Estado de São Paulo no Brasil na América do Sul no hemisfério sul no planeta terra no sistema solar na via láctea no universo... este mísero, ínfimo, infame, faminto universo fêmea em que a cara está presa pra sempre no quadro preso pra sempre na parede presa pra sempre na casa presa pra sempre na rua que prenderam pra sempre a um nome cujo dono ela nem conheceu - nem ela nem eu. Eu que olho minha cara presa na cara presa no quadro da parede que vai, aos poucos, ficando velha como o resto todo deste universo fêmea, faminto, infame, ínfimo e mísero em que me encontro sem espaço pra sobreviver a mim e a expansão do que há dentro em mim. Em mim, não no quadro nem na parede nem na casa nem na rua, muito menos no Antônio que emprestou o nome à rua que aprisiona a casa que aprisiona a parede que aprisiona o quadro que aprisiona a cara que aprisiona eu.

SER POETA SEM SER

Ah, esta luta esta labuta Cá estou num avesso de digestão a gerir palavras em vão! Ah, a crueldade do poema! A dor de cada verso A dor de saber-se assim Imperfeito assim Assim feio... Por que não calar de vez a voz? Por que insistir assim? Édipo cego sem pai sem mãe sem luz Em busca de ver com mãos e bocas a poesia que me habita e que me falta Está em mim, sombra em mim... Mas não é minha, não de mim Se a toco de leve foge, se a estupro finge-se de morta e eu, enfim Finjo-me assim De poeta sem ser.

SEM DOMINGUINHOS

(ao grande Dominguinhos) E o Brasil, de repente, ficou frio Até neve do céu se jogou, caiu sanfona quieta no canto palco velho - vazio... E os domingos podem, agora, ser só domingos, de novo... um pouco mais tristes menos sanfona menos memória Só domingo... não dominguinho Só domingos... sem Dominguinhos.