Se o relógio só pode marcar um instante a cada instante...
Vive, pois, de matar e desmatar instantes o relógio
É como a queda
d'água parada diante da própria queda
ou como o paraquedas
aberto depois do fim da queda
É como o suicida que desiste do suicídio embaixo do trem
ou a viúva que insiste no esposo depois do último palmo de terra
Se o relógio só marca o agora
então ele nada marca
O ponteiro do segundo
é um eterno atraso lento
somado a um pra sempre amanhã
é o intervalo
entre o fôlego e o afogamento
a ponte entre o nunca e o tanto faz
a janela aberta pra dentro
o piano sem cordas
a corda no pescoço morto
a pena na mão muda
a derradeira palavra vã
que dita é poeira no vento
e muda é poesia sem ventre...
é nada
Se o relógio só marca o agora
ele,
então,
marca o nada.
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