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VIDAS





Vá dizer que é tarde pra saudade dizer
e que é cedo pra noutra vida viver...
Vá dizer que tudo é água que chove na chuva
corre no rio, desmaia cachoeira
e evapora lago pra de novo chuva ser...

Vá dizer que é natural ser natureza
e que a beleza do infinito
vale toda a dor de uma vida
e que uma vida é só uma conta...
uma conta num colar de contas
cujo início ninguém mais sabe
cujo fim no fim não cabe

Vá dizer que nesta vida 
quero ser por mil e uma dividida
quero não caber numa só vida
pra quando eu, enfim, dela saltar,
noutra vida nova já comece a chorar...















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CASULO

A cara no quadro na parede da sala da casa da rua Antônio Bezerra da cidade de São Paulo no Estado de São Paulo no Brasil na América do Sul no hemisfério sul no planeta terra no sistema solar na via láctea no universo... este mísero, ínfimo, infame, faminto universo fêmea em que a cara está presa pra sempre no quadro preso pra sempre na parede presa pra sempre na casa presa pra sempre na rua que prenderam pra sempre a um nome cujo dono ela nem conheceu - nem ela nem eu. Eu que olho minha cara presa na cara presa no quadro da parede que vai, aos poucos, ficando velha como o resto todo deste universo fêmea, faminto, infame, ínfimo e mísero em que me encontro sem espaço pra sobreviver a mim e a expansão do que há dentro em mim. Em mim, não no quadro nem na parede nem na casa nem na rua, muito menos no Antônio que emprestou o nome à rua que aprisiona a casa que aprisiona a parede que aprisiona o quadro que aprisiona a cara que aprisiona eu.

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