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ALIÁS

Se eu acreditasse na poesia
Talvez um rabisco fosse uma estrada sem curvas
E talvez até houvesse um jardim sob o asfalto

Mas só creio nos aliases... aliás

Se eu mordesse a poesia
E sentisse dela o sabor dos versos mastigados
Se eu cheirasse a poesia
E alucinasse e me drogasse e me jogasse
Sem asas sem pressa sem aliases
Entre um e outro verso
Num espaço que nem há – sim –
O espaço do aliás
Aliás, se há poesia
Só há porque nela não creio
Esse nunca não crer
Esse nunca não querer

Se eu me tornasse poesia
E virasse de repente um verso
Sem reflexo sem avesso sem netos
E fosse uma poesia sem sexo
Sem nenhum aliás... aliás

Só assim a poesia há
Só assim há mim.
Sem mim sem aliás sem fim

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