Pular para o conteúdo principal

NUMA MESA ENFEITADA COM FLORES



Sim...
eu não sou diferente
eu sou exatamente 
o eu que eu mesmo fiz pra mim...

Pra tornar-me eu
enfrentei
e matei
o outro eu:
o  que você criou pra mim

Sei que me sonhou de branco
num altar dizendo sim
a uma noiva qualquer 
também de branco
desde que fosse uma noiva pra mim

Mas seu sonho 
não cabe no meu
Seu sonho é só seu
No meu
não existe noiva
No meu
há outro noivo
me dizendo sim...

No meu sonho 
não tenho nada a dizer:
chego em casa
numa tarde qualquer
te vejo linda,
entre os ingredientes
do seu bolo mais gostoso,
te beijo, 
brinco com seu cabelo
e te apresento meu namorado...
Tímido, ele te diz olá
e você, sorrindo, estende a mão
e diz muito prazer...

Meu sonho é só isso -
é só não precisar dizer
que o amor que eu sinto
tem um nome diferente...
e que, só por isso, 
eu sou também um diferente...
Meu sonho é comermos todos
do seu bolo
com café feito na hora,
numa mesa enfeitada com flores...
e você, bem séria, dizer:
"olha, moço, 
cuide bem do meu filho,
ele é o meu maior tesouro"





Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

MORMAÇO

Não sinto falta de mim  quando me despedaço e vou Sinto que sobra espaço no que me fica quando me despeço e voo e se a palavra sair calada não espanta, apanha o silêncio e escuta vigia meu sono devagar e não me deixe nunca perder seu rastro perder seu signo no mormaço - saciado cio - do nosso olhar: altar do meu sair  sempre pra fora de mim...

A VOZ

Onde está sua voz para ler meus poemas? De nada me valem os poemas se não tenho voz para lê-los. Pobres poemas ófãos - eles desconfiam de seu adeus e já não querem mais rimar. Pobres poemas órfãos! Ontem enquanto me lia para mim - e eu ouvia sua voz a me contar coisas de mim - esqueci que o tempo existe e que os amores nem sempre resistem. Ouvir sua voz é assim: decifra-me enquanto me faz esquecer das coisas, do mundo e de mim. Onde está sua voz me revelando devagar? Onde está sua voz que me morde e me arrepia quando diz meu nome sem falar?  Um eco ao menos, deixe-me um eco quando gritar meu nome antes de dormir.

A DOCE VINGANÇA DO ANJO CONTRA O TEMPO

(a Gabriel Garcia Marques) Muito tenho me inimizado com o tempo nos últimos tempos Muito tenho lhe lastimado as horas que me rouba Muito lhe amaldiçoo toda noite pela noite que se esvai de mim  Que cai pelo vão dos meus dedos vãos que de nada servem pois não podem segurar as areias do tempo na velha ampulheta do tempo escorada pra sempre na muralha das esperanças idas perdidas na ilha dos anteontens... Mas eis-me aqui, agora, diante de ti que não te lembras nem mesmo de ti teus cem anos de solidão tuas putas tristes teu cólera e todo o amor vivido em seu tempo E agora que tua memória vive em outro tempo? E agora, Gabriel, sem tua memória, em que tu pensas? E agora, como posso ler-te agora? Oh, como te invejo hoje mais que nunca! Como invejo o livre de tuas horas livres o sem-tempo de teu sem tempo teu presente sem nenhum passado teu passado sem nenhum futuro e teu futuro sem nenhuma pressa Ah, o esquecimento! Quão doce