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Mostrando postagens de abril, 2014

MAIS

Sabe mais quem sabe nada sabe bem quem sabe e cala sabe sim quem descasca a bala e dá o primeiro tiro na cara do cara com cara de tio que, enquanto anda, tira a cara e bota outra no lugar... Sabe mais quem mata o tempo antes que a bala do tempo lhe fure o peito... sabe mais sabe mais quem nada sabe...

NUMA NOITE DE ABRIL

Há anos vivo assim de sobreviver e da esperança nunca vã de novamente te rever Em mim, tudo mudou e às vezes, confesso mal sei quem sou Quando partiste era noite e, desde então, uma longa noite veio morar dentro de mim Só agora posso de novo enxergar que há, na noite dos meus dias, uma estrela por mim a brilhar E no escuro do céu da minha noite brilhas para me guiar na vida como fazias quando ainda era tão pouca a minha pequena grande vida... Não choro mais a tua falta agora espero lento o dia alegre da minha volta pra dentro do teu ninho - onde eu nunca, de verdade,  deixei de estar - agora eu sei.

TUA SAUDADE

Tua saudade em mim mal te espera partir para me avisar ardida que estou já sem ti Meu corpo reclama a ausência do teu e meu coração tão fiel torna-se ateu O tempo que te ausentas me é tanto que em mim tudo é dor e desencanto mal suporto da noite a chegada e ansiosa te espero na rua, na estrada Sei que me beijas ao sair em meu sono Sei que me cortejas até os sonhos Sei que é longo o dia sem tua presença Hoje não te vás, não me dá tua ausência Hoje fica mais e me cura de qualquer doença Hoje casa comigo de novo - eu te proponho.

MINHA FÊMEA

E agora você me vem falar de abismos como se eu não os carregasse comigo... E agora você me mostra jornais, me interroga falácias e me carrega no bolso por onde foge Não.  Não quero seu semblante  ferro de passar mentiras nem quero a sua pausa bala sem nenhum gatilho Valha-me deus - de pernas cruzadas  no fim do corredor - com selo e carimbo nas mãos Valha-me a pele da lontra que a mulher feia exibe no ombro pra menos feia parecer... E nas vitrines tantas vozes sem cara corpos nus embaixo de vestes cruas e tudo isso e nada  e cada coisa é um mundo inteiro Não.  Não me venha falar de lìnguas à míngua de beijos, sem verso sem calo... de nada valem as pernas cruzadas a pele da lontra e a ponte no abismo se o que fica depois do gozo é seu gosto na minha carne - convulsa carne dos meus seios tão nus - feito a fome dos canibais feito o medo do estuprador meu sexo inteiro te quer engolir agora: linha tênu

NUMA MESA ENFEITADA COM FLORES

Sim... eu não sou diferente eu sou exatamente  o eu que eu mesmo fiz pra mim... Pra tornar-me eu enfrentei e matei o outro eu: o  que você criou pra mim Sei que me sonhou de branco num altar dizendo sim a uma noiva qualquer  também de branco desde que fosse uma noiva pra mim Mas seu sonho  não cabe no meu Seu sonho é só seu No meu não existe noiva No meu há outro noivo me dizendo sim... No meu sonho  não tenho nada a dizer: chego em casa numa tarde qualquer te vejo linda, entre os ingredientes do seu bolo mais gostoso, te beijo,  brinco com seu cabelo e te apresento meu namorado... Tímido, ele te diz olá e você, sorrindo, estende a mão e diz muito prazer... Meu sonho é só isso - é só não precisar dizer que o amor que eu sinto tem um nome diferente... e que, só por isso,  eu sou também um diferente... Meu sonho é comermos todos do seu bolo com café feito na hora, numa mesa enfeitada co

AUSÊNCIA

PORQUE UMA MÃE PODE, ÀS VEZES, SER ÓRFÃ DE UMA FILHA E agora é escuro o que já foi sonho é oco o que já foi pleno e espaço onde o abraço havia... Agora é abismo o que já foi ponte é pouco o que já foi tanto e pranto onde o encanto havia... Foi um arrancar-me de mim mesma um avesso do teu parto um barco sozinho sem nenhum mar, nenhum cais: teu quarto é só um quarto não é mais o teu ninho teu colo  aqui - quieto - no meu colo ainda te aquece e te guarda o meu carinho Tua partida um desmoronamento Teus passos na estrada te esperando passar não passam não passarão Teus pés já não são pés que pousam qualquer chão E agora ando só cá por dentro de mim imensa como o pó que se foi amontoando na lembrança  que não chegou a ser lembrada: o porta-retratos sem retratos me diz a todo instante que teus vinte e poucos anos nunca me serão suficientes... Estou parada sobre a ponte parada sobre o mar disparado sob mim ondas vão ondas voltam e eu espero em

PRESSAS

Passadas as primeiras pressas escorre lento o que correu ligeiro dorme até quem  foi sempre passageiro É o tempo que se faz de louco, que se finge eterno que se dá tão pouco apaga fotos e cadernos Se há enxurrada não é água que corre nela é a pressa que escorre e ela nem sabe de seu pouco tempo de seu caminho torto de seu vagar sem rumo sem passos não anda sem espaço inunda calçadas e ruas, mas cabe inteira na sarjeta que a acolhe e a condena Se há enxurrada não é água que corre nela é o tempo que escorre e ela nem sabe que  na mágoa da sua carne não há água,  há só lama e carma.