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TUA



Ah, essa tua carne morena coberta de pelos! Essas mãos grandes que conhecem meus esconderijos mais escondidos! É a tua mão que me devora antecipada quando me afaga os cabelos da nuca (tu não esqueces de me levantar os cabelos e de encostar teu corpo todo no meu, só para que eu sinta quem é que me guia enquanto eu perco a direção) e é tu que me deixas louca quando me morde o canto da boca.

Depois me tatuas a pele com a barba desenhando em minhas costas - com a dor lenta que todo prazer sempre tem - estradas de se perder pra sempre (as mesmas onde perco a direção).

Eu só preciso sentir teu corpo agora - dá-me teu corpo - põe teu corpo em mim, em minhas mãos tão menores que as tuas - põe teu corpo em minha boca, põe!

Quero teu corpo agora. Todo ele atracando em meu cais e me afogando enquanto pesa sobre mim!

Enquanto me doma e me incendeia e me põe em erupção quando me tem assim - inteira - tua - só para o teu prazer, só para te satisfazer, tua cativa - perdida, sem direção, sendo guiada pela tua mão forte em minha nuca no meio do oceano imenso que existe entre os continentes das tuas pernas.

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A DOCE VINGANÇA DO ANJO CONTRA O TEMPO

(a Gabriel Garcia Marques) Muito tenho me inimizado com o tempo nos últimos tempos Muito tenho lhe lastimado as horas que me rouba Muito lhe amaldiçoo toda noite pela noite que se esvai de mim  Que cai pelo vão dos meus dedos vãos que de nada servem pois não podem segurar as areias do tempo na velha ampulheta do tempo escorada pra sempre na muralha das esperanças idas perdidas na ilha dos anteontens... Mas eis-me aqui, agora, diante de ti que não te lembras nem mesmo de ti teus cem anos de solidão tuas putas tristes teu cólera e todo o amor vivido em seu tempo E agora que tua memória vive em outro tempo? E agora, Gabriel, sem tua memória, em que tu pensas? E agora, como posso ler-te agora? Oh, como te invejo hoje mais que nunca! Como invejo o livre de tuas horas livres o sem-tempo de teu sem tempo teu presente sem nenhum passado teu passado sem nenhum futuro e teu futuro sem nenhuma pressa Ah, o esquecimento! Quão doce