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PEQUENO TRATADO DOS QUE NÃO PASSAM






Creio que do amor, sei melhor escrever sobre do que, de fato, vivê-lo. 
Mas sei dizer que algumas pessoas nos marcam com uma espécie de sentido a mais que entra em contato com um sentido a mais que vive em nós. 
Algumas pessoas têm o estranho poder de imprimir suas vidas nas nossas, de se deixarem tatuadas em nós... e então pra onde quer que olhemos, é como se víssemos vestígios, pegadas, rabiscos ... como a criança que pega o doce na geladeira, mas deixa seus dedinhos gravados na porta... 
Algumas pessoas, mesmo em nosso passado,  não passam... fica delas sempre um aroma no ar, um sabor na boca, um toque na pele que já não há... 
O fato é que não passam, porque elas, de fato, não estão em algum lugar distante, elas ainda estão aqui conosco, ainda moram dentro de nós.
De vez em quando resolvem mudar a mobília da casa de nossas lembranças e, então, remexem tudo, tiram tudo do lugar e, de repente, nem o sol brilha igual... depois adormecem em nossa memória mais doce e nos deixam, enfim, em paz também adormecer. 













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A VOZ

Onde está sua voz para ler meus poemas? De nada me valem os poemas se não tenho voz para lê-los. Pobres poemas ófãos - eles desconfiam de seu adeus e já não querem mais rimar. Pobres poemas órfãos! Ontem enquanto me lia para mim - e eu ouvia sua voz a me contar coisas de mim - esqueci que o tempo existe e que os amores nem sempre resistem. Ouvir sua voz é assim: decifra-me enquanto me faz esquecer das coisas, do mundo e de mim. Onde está sua voz me revelando devagar? Onde está sua voz que me morde e me arrepia quando diz meu nome sem falar?  Um eco ao menos, deixe-me um eco quando gritar meu nome antes de dormir.