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AINDA

Por que será que entre tantos beijos é o seu que ainda busco?
Queria conseguir amaldiçoar a hora em que seu beijo beijei - mas não posso
Pois foi quando tudo fez sentido - uma vida toda - esperando só
por seu beijo a me beijar - meigo e quente - como quem levita depois da queda
Se for suicídio tudo isso que nem sei - que seja - que seja meu fim - não importa
Nada mais importa - já não é meu o beijo que mesmo em sonhos me desperta
Outros beijos tentam imitar seu jeito de me tocar
tentam - em vão - por minha boca caminhar
sem saber que são seus os caminhos e é ainda seu
tudo que quero beijar
e tudo que quero morder
Preciso sentir seu peito a me ensaboar as costas
pelo menos uma vez mais - depois
a gente finge que nunca se viu
e a vida há de seguir seu rumo
sem você na minha e sem eu na sua
duas vidas sem duas vidas - solidão?
Nada - só é só quem nunca amou um janeiro inteiro
e eu amei...

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MORMAÇO

Não sinto falta de mim  quando me despedaço e vou Sinto que sobra espaço no que me fica quando me despeço e voo e se a palavra sair calada não espanta, apanha o silêncio e escuta vigia meu sono devagar e não me deixe nunca perder seu rastro perder seu signo no mormaço - saciado cio - do nosso olhar: altar do meu sair  sempre pra fora de mim...

A VOZ

Onde está sua voz para ler meus poemas? De nada me valem os poemas se não tenho voz para lê-los. Pobres poemas ófãos - eles desconfiam de seu adeus e já não querem mais rimar. Pobres poemas órfãos! Ontem enquanto me lia para mim - e eu ouvia sua voz a me contar coisas de mim - esqueci que o tempo existe e que os amores nem sempre resistem. Ouvir sua voz é assim: decifra-me enquanto me faz esquecer das coisas, do mundo e de mim. Onde está sua voz me revelando devagar? Onde está sua voz que me morde e me arrepia quando diz meu nome sem falar?  Um eco ao menos, deixe-me um eco quando gritar meu nome antes de dormir.

A DOCE VINGANÇA DO ANJO CONTRA O TEMPO

(a Gabriel Garcia Marques) Muito tenho me inimizado com o tempo nos últimos tempos Muito tenho lhe lastimado as horas que me rouba Muito lhe amaldiçoo toda noite pela noite que se esvai de mim  Que cai pelo vão dos meus dedos vãos que de nada servem pois não podem segurar as areias do tempo na velha ampulheta do tempo escorada pra sempre na muralha das esperanças idas perdidas na ilha dos anteontens... Mas eis-me aqui, agora, diante de ti que não te lembras nem mesmo de ti teus cem anos de solidão tuas putas tristes teu cólera e todo o amor vivido em seu tempo E agora que tua memória vive em outro tempo? E agora, Gabriel, sem tua memória, em que tu pensas? E agora, como posso ler-te agora? Oh, como te invejo hoje mais que nunca! Como invejo o livre de tuas horas livres o sem-tempo de teu sem tempo teu presente sem nenhum passado teu passado sem nenhum futuro e teu futuro sem nenhuma pressa Ah, o esquecimento! Quão doce