Agora faz frio aqui dentro e todo o tempo que tenho esqueço. Da janela vejo que é verão - é quando sinto mais forte que minha sala vive em outro hemisfério. Apesar do frio, recuso-me a acender a lareira, recuso-me a vestir qualquer roupa, recuso-me a sair de casa. Eu sei que poderia abrir a janela, mas não agora. Agora não chove e só me salvam os pingos úmidos no tapete da sala.
Certa vez pensei em me mudar. Arrumei caixas - muitas - aprisionadas no apartamento. Então, olhei a cidade à noite com suas luzes e imaginei serem todas caixas iluminadas com vidas encaixotadas sem luz alguma dentro. Desisti de mudar - as caixas ficaram. Às vezes tropeço nelas. Às vezes jogo pensamentos velhos nelas e as fecho. Anos depois abro as caixas com pensamentos velhos e os escuto sussurrarem histórias de tempos de antes de eu pensar. São pensamentos encaixotados, também, eu sei, mas pelo menos não me pertencem mais.
Será que também é frio nas outras caixas da cidade ou é só na minha que tudo anda assim tão frio?
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